biologia molecular

Apoptose - Bem e Mal

08/02/2005



A apoptose, onde ocorre a morte celular programada como parte de um processo normal, muitas vezes é um benefício para o organismo, servindo como um mecanismo de defesa. A célula recebe um sinal para se autodestruir , encolhe de tamanho, quebra a cromatina em pedaços e se torna facilmente fagocitada. A morte por apoptose não provoca inflamação. Ao contrário, a necrose, morte celular geralmente por falte de oxigênio, por microrganismo patógeno ou por substância tóxica faz com que as células se rompem e lancem seu conteúdo para o meio extracelular promovendo resposta inflamatória nos tecidos vizinhos. As células e as organelas aumentam de volume ocorrendo a ruptura da célula. 


Palavras-chave – p53, macrófagos, necrose, ICE-proteases, linfócitos T, timócitos, Bcl-2, apoptose.

ABSTACT

The apoptosis, where occur the death cellular programmer, many times is one benefice for the organism, serving as a mechanism of defense. The cell accept a signal for herself shatter, shrink of size, rupture at chromatin in pieces and herself easily phagocytes. The death by apoptosis no provoke at inflame. On the contrary, at necrosis, death cellular usually by absence of oxygen, by microorganism pathogenic or by substance toxic get what them cells herself break and cast your contents to out of cell promoting response inflammatory us goods neighbors. Them cells and the organelles increase of bulk occurring to break your cell.

Key words – p53, macrophages, necrosis, ICE-proteases, lymphocytes T, timocits, Bcl-2, apoptosis.

 

Introdução


As células freqüentemente praticam o suicídio, num processo conhecido como apoptose. Esta capacidade é essencial para o próprio funcionamento do organismo. Uma falha neste mecanismo pode estar por trás de muitas doenças.

Milhões e milhões de células do nosso organismo estão morrendo a todo momento. Mas não é de se espantar; isto acontece porque na maioria das vezes tais células precisam praticar o suicídio para a sobrevivência do próprio organismo. Pesquisas indicam que a saúde de todos os organismos multicelulares, incluindo os seres humanos, depende não somente da capacidade do corpo de produzir novas células, mas também da capacidade de cada célula se autodestruir quando se tornam enfermas. O processo crítico, hoje conhecido como apoptose ou morte programada, foi negligenciado durante muito tempo. Os biólogos, porém, recentemente fizeram grandes progressos na compreensão de como o suicídio celular é habilitado e controlado.

A regulação da apoptose levando a muito ou pouco suicídio celular contribui, provavelmente, para as variadas desordens como câncer, AIDS, Mal de Alzheimer e artrite reumatóide.

A morte das células, não é como se pensava, prejudicial ao organismo; mas de fato, necessária. Pelos idos de 1950, havia sido mostrado que os seres multicelulares obtinham a sua forma final pela eliminação seletiva de células. O girino elimina a cauda durante a sua metamorfose em sapo; mamíferos eliminam incontáveis neurônios enquanto o seu sistema nervoso se desenvolve. Os microscopistas têm identificado os principais sinais que distinguem esta morte fisiológica, de uma destruição acidental como é a necrose.

A morte de células por necrose ocorre quando uma célula é severamente ferida, por desastre físico ou privação de oxigênio, por exemplo. O inchaço das células é um diagnóstico decisivo. Assim as organelas internas e as células como um todo incham e se rompem. Esses efeitos ocorrem porque injúrias impedem as células de controlar seus fluidos e o seu equilíbrio iônico; água e partículas pesadas (especialmente íons de sódio e cálcio) que são normalmente bombeados para fora da célula, agora ficam circulando dentro da mesma. Outro diagnóstico é a inflamação: macrófagos circulantes e outros glóbulos brancos do sistema imune vão em direção as células necrosadas e as digerem. A inflamação auxilia na limitação da propagação da infecção e na remoção de restos de tecidos, mas a atividade e as secreções dos glóbulos brancos podem danificar os tecidos sadios vizinhos, algumas vezes de maneira extensiva.

Durante o processo de apoptose, não ocorre um inchaço ou aumento de tamanho nas células, como na necrose. Em vez disso, as células moribundas, primeiro encolhem e se destacam das células vizinhas. Logo em seguida começam a aparecer bolhas nas superfícies dessas células, que desaparecem e reaparecem prontamente. As organelas internas retém as suas estruturas, mas o núcleo, que na necrose sofre pouca alteração, muda drasticamente na apoptose. De maneira conspícua o núcleo começa a dispersar, e a cromatina (o DNA cromossômico com suas respectivas proteínas) a se condensar em uma ou mais bolhas, próximas ao envelope nuclear.

Neste ponto as células apoptóticas são freqüentemente ingeridas pelas células vizinhas incluindo os macrófagos, presentes em todos os tecidos sem incitar uma resposta inflamatória. Células moribundas que não são consumidas podem sofrer novas mudanças: tipicamente o núcleo se fragmenta e as células de dividem em muitos "corpos apoptóticos" que podem conter uma peça ou duas do núcleo. Como antes, esses corpos são removidos de maneira silenciosa.

De maneira interessante certas células que sofrem morte programada não são devoradas prontamente; elas persistem por um longo tempo ou mesmo indefinidamente. O cristalino do olho, por exemplo, é constituído por carcaças de células, as quais tiveram o seu conteúdo citoplasmático substituído pela proteína cristalina, durante o processo de morte programada (apoptose). Na pele células chamadas de queratinócitos são geradas pelos seus precursores numa camada deste tecido: tais precursores migram então para a superfície, formando camadas de células mortas. Diferente do cristalino eles substituem seus conteúdos por queratina e adquirem impermeabilidade à água. Tais células mortas formam a camada protetora da pele e freqüentemente sofrem descamação, sendo substituídas por outras.

 

Suicídio aos pedaços


O mesmo tipo de morte celular, evidente durante o desenvolvimento, também ocorria nos organismos maduros e continuava pelo resto da vida. Na apoptose, diferente da necrose, onde a célula é uma vítima passiva, a célula tem um papel ativo, com um gasto de energia para levar a sua própria morte. A iniciação ou a inibição inadequadas do suicídio celular pode contribuir para muitas doenças, incluindo o câncer.

A palavra grega apoptosis foi adotada para distinguir este tipo de morte celular da necrosis (necrosar). No Grego clássico, apoptose significa "decaimento", como o decaimento das pétalas de uma rosa ou no das folhas de uma árvore.

Alguns sinais de que a apoptose está sempre ocorrendo e que algumas falhas neste processo podem contribuir para o desenvolvimento do câncer. A localização precisa de algumas das moléculas que realizam e regulam a apoptose já está sendo estudada.

Exatamente, como e quando as células praticam o suicídio (apoptose)? Ainda temos muitas questões que não podem ser respondidas, mas já foram descobertos alguns princípios fundamentais. A maioria das células, ou mesmo todas, manufaturam um conjunto de proteínas que podem servir como armas de autodestruição. Desde que a célula é útil ao organismo, ela reprime sua maquinaria de autodestruição (o desencadeamento dessas proteínas). Se, entretanto, a célula se torna infectada ou maligna, ou, se ela compromete a saúde do organismo, as proteínas letais começam a ser desencadeadas para dar inicio ao processo de suicídio.

A apoptose pode começar pela ação de vários gatilhos, inclusive pela remoção dos sinais químicos das células (conhecidos como fatores de crescimento ou de sobrevivência) pelos quais elas se reconhecem uma a outra. A morte celular pode também ser desencadeada pelos receptores de mensagens, internos e externos, que podem começar a ignorar certas mensagens químicas; ou pelos receptores celulares para sinais conflitantes como aqueles que “dizem” se ela deve ou não sofrer divisão celular.

Em alguns tipos celulares, a apoptose poderá ser desencadeada preditivamente; os queratinócitos que migram para a superfície da célula são mortos e consumidos aproximadamente 21 dias após o início de sua jornada. Mesmo as células que não são substituídas e permanecem por toda a vida de um organismo, como os neurônios e as células musculares, podem ser, de alguma maneira, convencidas a praticar suicídio, ao se tornarem problemáticas.

Queimaduras de sol, por exemplo, podem levar a apoptose os queratinócitos que ainda não ascenderam à superfície da pele.

Em todos os tipos celulares e em todos os organismos multicelulares estudados até agora, a máquina do suicídio consiste de varias enzimas, que quebram proteínas, chamadas de ICE-proteases.

As ICE-proteases que destroem as células, seriam como um conjunto de lâminas que normalmente estariam envolvidas numa capa. Quando as enzimas são ativadas (as lâminas, desembainhadas e empunhadas), elas talham várias outras proteínas, de maneira que levam a destruição das células. Alguns desses golpes destroem componentes estruturais essenciais às células. E, alguns desses golpes, levam direta ou indiretamente a destruição do material genético, impedindo a célula de se manter viva.

A despeito de sua maquinaria de morte, as células podem diferir quanto aos sinais que as induzem para a autodestruição. A lerdeza ou rapidez com o qual o programa de morte é ativado, pode também variar de um tipo de célula para outro e de um estagio de desenvolvimento para outro, numa única célula. E, ainda, uma dada célula pode ser sensível a muitos gatilhos diferentes. Um dos principais focos das pesquisas sobre apoptose é especificar todo o âmbito dos indutores de apoptose e decifrar como eles comandam a ativação das destrutivas ICE-proteases. As instruções transmitidas pelos indutores são transportadas para as proteases por uma serie de intermediários, e que os diferentes gatilhos podem usar intermediários distintos. Mas para a maioria, as cadeias de interações, ou de sinalizadores, ainda precisa ser melhor caracterizada.

 

Muitos gatilhos


O progresso feito até agora pode ser verificado a partir de uma breve inspeção sobre como as células conhecidas como linfócitos T (timócitos) devem ser capazes de se prender, pelos seus receptores, aos antígenos dos micróbios (proteínas que sinalizam a presença de invasores). Ao mesmo tempo, elas devem estar insensíveis a substâncias feitas pelo próprio corpo, já que as células T auto-reativas podem destruir tecidos normais. Somente aqueles timócitos que produzem receptores funcionais é que irão amadurecer e entrar na corrente sanguínea para patrulhar o corpo.

No timo, os timócitos que falham em produzir receptores funcionais, sofrem apoptose, já que não terão funcionalidade. Os timócitos também praticam o suicídio se os seus receptores ligarem-se fortemente a moléculas desenvolvidas no próprio timo. Tal ligação for é um sinal de que a célula poderá, mais tarde, alvejar tecidos saudáveis para uma destruição autoimune. 

Células T maduras que finalmente entram na circulação permanecem em repouso amenos que encontrem os antígenos específicos para os seus receptores. As células em repouso, da mesma maneira que os timócitos e muitas outras células, são suscetíveis a novos indutores de suicídio: raios-x (tais como aqueles relacionados ao tratamento de cânceres) e outros agentes que causam algum dano ao DNA. Tais danos estimulam as células a produzirem uma proteína chamada p53, a qual, por sua vez, induz a ativação do programa de apoptose. Numa certa época, se pensava que todas as células tinham que sintetizar a p53 ou outra proteína para se autodestruir. A síntese de proteínas, certamente é necessária em muitas situações, mas nem sempre.

As células T tornaram-se ativas, isto é, elas proliferam e produzem proteínas que promovem inflamação quando seus receptores ligam-se fortemente a antígenos estranhos. Tal atividade é importante quando um agente infeccioso está ainda presente, mas quando a infecção acaba, as células T devem morrer. De outra maneira estas células podem se acumular, dando origem a uma inflamação crônica e uma possível autoimunidade.

A apoptose em células T não funcionais é induzida por duas maneiras. Um dos mecanismos envolve a privação dos fatores de sobrevivência neste caso, o desaparecimento de um fator da célula T chamado interleucina-2, quando o agente infeccioso é eliminado. O segundo mecanismo depende de uma molécula chamada Fas.

Células T em repouso produzem baixos níveis de Fas, os quais se projetam através da membrana celular, permanecendo uma das extremidades desta projeção no espaço intercelular, e a outra no interior da célula. Esta proteína pode conduzir sinais para o interior das células. Quando as células T encontram o antígeno e se tornam ativas, elas produzem uma Fas extra, a qual, de início, não é funcional. Tais células fazem temporariamente uma outra molécula chamada Fas-ligante. Após alguns dias, a Fas torna-se funcional. Então a Fas-ligante das células T ativadas ligam-se as Fas da mesma célula ou as Fas de outra célula T ativada no local da infecção, e esta ligação instrui aquela célula a sofrer apoptose.

Desta maneira, são dados poucos dias para s células T ativadas, realizarem o seu trabalho (isto é, erradicar uma infecção), após o que, são programadas para morrer.

A sensibilidade dos linfócitos T e outras células aos vários indutores de apoptose, pode depender do estado da célula naquele dado momento. Células T em repouso, morrerão rapidamente em resposta a radiação com raios-x que induz a formação da p53, a qual inicia a apoptose, mas as células T ativadas, não. A forte ligação de um receptor de timócito com proteínas, no timo, resulta em morte (apoptose), mas uma ligação com antígenos feita por células T maduras que estão em circulação resulta numa ativação das mesmas. E mais, alguns tipos de células são inerentemente mais suscetíveis a apoptose do que outros.

A evolução levou a formação de células que não podem ser substituídas, como neurônios e células musculares esqueléticas, mas que são mais resistentes; o que é bom, já que a perda de tais células poderia ter conseqüências terríveis para o organismo. De outra maneira, a evolução também levou a formação de células que podem (e devem) ser substituídas, tais como as do sangue. Tais células parecem ser mais suscetíveis à morte (apoptose) a partir de um pequeno estimulo.

A proporção de bloqueadores para promotores, ajuda a determinar como realmente a apoptose procede. Entretanto, a maneira precisa como essas moléculas interagem com a maquinaria da morte (o processo de apoptose), ainda permanece incerta.

 

Apoptose e as doenças virais


Assim como a apoptose é essencial para o organismo desenvolver e sobreviver, distúrbios neste processo parecem ter um papel muito importante para a grande variedade de doenças humanas, como aquelas de origem viral.

Após penetrar na célula, os vírus tentam fazer com que esta produza apenas aquelas proteínas necessárias a produção de mais vírus. Pior para o vírus, pois isso vai induzir muitos tipos de células a cometer suicídio. Se as células hospedeiras morrem, o vírus é eliminado também. Determinados vírus, portanto, evoluíram de maneira a inibir a apoptose nas células que eles infectam.

Eles produzem substâncias que são semelhante a Bcl-2, um inibidor da apoptose. Eles podem também produzir moléculas que levam a célula hospedeira a aumentar sua própria produção de Bcl-2. Outros vírus, inativam ou degradam o  indutor de apoptose p53; papiloma vírus, a principal causa do câncer cervical, é um exemplo. O vírus da varíola bovina, parente do vírus que é usado como vacina contra a varíola humana, elabora uma proteína que impede a ICE-protease de desencadear o programa de apoptose, o que sugere que alguns vírus humanos façam o mesmo.

Nos humanos e outros animais, o sistema imune tem suas próprias estratégias para combater aquelas dos vírus. A principal tática está no subgrupo dos linfócitos T, conhecidos como citotóxicos, ou células assassinas: as células T erradicam as células infectadas. Depois que as células assassinas se ligam as células alvo, elas bombardeiam essas células com dois tipos de proteínas que juntas podem infligir um golpe mortal. Uma das proteínas (que faz a performance) se insere na membrana da célula infectada; isto forma uma estrutura semelhante a um poro que permite capturar outras proteínas, enzimas chamadas granzimas. Essas enzimas podem ativar as ICE-proteases e deste modo induzir a apoptose. Mas se aquela abordagem falhar, os íons de cálcio que passam através de novos poros podem colaborar com as granzimas para produzir uma morte necrótica.

A habilidade das células T para induzir a apoptose uma na outra e em células infectadas pode, inadvertidamente, condenar células saudáveis que residem próximo de tecidos infectados. O dano e este "espectador" ocorre porque muitas células no corpo produzem Fas, especialmente quando elas ou seus vizinhos são infectados. Quando as células assassinas (linfócitos T) se dirigem para as células infectadas, as Fas-ligantes, que se expandem da superfície das células T, podem se ligar com as proteínas Fas das células doentes dando início ao processo de apoptose nas células infectadas. Tal atividade é útil e aumenta outras táticas imunes para o combate às infecções.

Mas a  Fas-ligante nas células T podem se acoplar com as Fas da células saudáveis que estão na vizinhança e desencadear o processo de apoptose nestas células. Este efeito nas células vizinha saudáveis pode explicar porque o vírus da hepatite muitas vezes cauda um dano tão extensivo no fígado, ainda que o vírus infecte poucas células deste órgão.

 

Porque as células T morrem tão facilmente quando existe AIDS?


Acredita-se que a indução da apoptose nas células saudáveis contribua também para a deficiência do sistema imune que atormenta os pacientes aidéticos. Nas pessoas que contraem o vírus da imunodeficiência humana (HIV), a causa da AIDS, os linfócitos T conhecidos como células T auxiliadoras, morrem. Com o desaparecimento, as células citotóxicas T também sucumbem, porque necessitam de sinais de crescimento das células T para prevenir a apoptose. Quando as células T degeneram, a capacidade do corpo para combater as doenças também diminui, especialmente infecções parasíticas e virais. Morrem muito mais células T auxiliadoras do que aquelas que são infectadas. Também é evidente que um grande número de células provavelmente morrem por apoptose. Mas até agora ninguém sabe o que induz esta auto-destruição.

Uma resposta plausível invoca a manifestação das Fas. Recordemos que as células T normalmente tornam a Fas funcional somente depois de alguns dias que estas foram ativadas, estando, prontas para morrer. Mas as células T auxiliadoras dos pacientes aidéticos podem mostrar altas quantidades de Fas funcional mesmo antes de terem detectado os antígenos específicos. A formação da Fas neste caso, causaria apoptose prematura, independente deles encontrarem a Fas-ligante nas outras células (tais como as células T já ativadas contra HIV ou outros micróbios). As células preparadas podem também desencadear a sua própria morte, sem receber sinais das células ativadas, se elas encontram os antígenos reconhecidos pelos receptores. O reconhecimento do antígeno leva as células T a produzirem a Fas-ligante. Essas proteínas podem contactar as moléculas Fas da própria célula e portanto ativar o programa de apoptose nestas. Pior ainda, essas células T estimuladas por antígenos, e que carregam a Fas e a Fas-ligante, podem amplificar a morte prematura, de celular, induzindo o suicídio de uma na outra.

É possível também que as moléculas denominadas de radicais livres de oxigênio desencadeiem o suicídio das células T não infectadas: essas substancias altamente reativas são produzidas por células inflamatórias que são atraídas para infectar os nódulos linfáticos dos pacientes com AIDS. Os radicais livres podem danificar o DNA e as membranas nas células. Eles poderão causar necrose se o dano for extensivo, mas podem induzir apoptose se o dano for mais sutil. Em corroboração à teoria dos radicais livres, as moléculas que são capazes de neutralizar os radicais livres poderão prevenir a apoptose nas células T obtidas de pacientes aidéticos. Terapias antiapoptóticas para AIDS estão agora sendo estudadas.

 

O papel da Apoptose na Autoimunidade


Embora as células T normais posam ser induzidas a cometer suicídio  por outras células do sistema imune, em pacientes com HIV, as células saudáveis não são tecnicamente mortas por um processo autoimune. A autoimunidade ocorre quando o receptor de antígenos nas células do sistema imune, reconhecem antígenos específicos das células saudáveis do próprio organismo, levando-as a morte.

Entretanto, existem desordens do sistema autoimune associadas a apoptose. Se o corpo elimina rotineiramente linfócitos autoreativos, como pode ocorrer a autoimunidade? Sabe-se que o corpo permite que alguns linfócitos autoreativos circulem moderadamente. Essas células normalmente causam pouco dano, mas elas podem se tornar muito ativas por vários processos. Por exemplo, se os linfócitos também reconhecem algum antígeno estranho (em um micróbio ou em um alimento), a exposição a este antígeno pode deixá-los excitados de maneira incomum; eles então aumentam em número e podem atacar os tecidos saudáveis com muita violência.

As reações autoimunes normalmente são autolimitadas; elas desaparecem quando os antígenos que as desencadearam são eliminados. Algumas vezes, entretanto, os linfócitos sobrevivem mais do que deveriam e continuam a induzir apoptose nas células normais. Evidências em animais e humanos indicam que a sobrevivência, além do normal, de células autoreativas está implicada em pelo menos duas síndromes auto-imunes: “systemic lupus erythematosus” e artrite reumatóide. Em outras palavras, os linfócitos sofrem pouca apoptose, enquanto as células normais sofrem muita.

Pesquisas médicas estão sendo voltadas para a possibilidade dos linfócitos autoreativos viverem por muito tempo porque produzem moléculas que impedem a Fas-ligante (produzidas por outras células) de se ligar com a Fas na superfície dos linfócitos. Isto, portanto, impede a Fas-ligante de mandar os sinais de morte para os linfócitos. Outra idéia sugere que os linfócitos evitam a apoptose, produzindo pouca Fas; ou, produzindo em demasia uma proteína inibidora do suicídio, a Bcl-2. em qualquer caso uma melhor compreensão de como as células T vivem e morrem, pode nos dar novos indícios sobre as estratégias para se ativar, seletivamente, a morte programada dos linfócitos específicos, responsáveis pelas condições autoimunes. Por exemplo, pode ser possível transportar uma molécula que ativa a Fas (talvez mesmo a Fas-ligante) para uma junta artrítica e, deste modo, promover a aniquilação de células imunes hiperativas.

Diversos tecidos do corpo parecem usar a Fas-ligante para evitar que se tornem alvos da autoimunidade. Ao formar a Fas-ligante, certas células no testículo, no olho e, possivelmente no cérebro induzem uma rápida apoptose em quaisquer células T que transportam a Fas. Pesquisadores tem a esperança de usar esta descoberta para otimizar o transplante de órgãos. Por enquanto, os únicos órgãos e tecidos que podem servir como enxertos são aqueles cujos antígenos mais se combinam com aqueles do tecido a receber o transplante. Tal combinação deve ser muito próxima, do contrario pode resultar na destruição do enxerto. Mas se órgãos doadores e tecidos puderem desenvolver a Fas-ligante, eles poderão resistir a ataques imunológicos pelo hospedeiro e assim tornarem-se adequados para o transplante.

 

As Células do Câncer esquecem de morrer


Na autoimunidade as células do sistema imune não conseguem morrer quando era esperado que assim o fizessem; no câncer, entretanto, são as células do tumor que se negam a morrer. De fato, o câncer está começando a ser visto como uma doença que envolve tanto a proliferação excessiva de células como a sua renuncia à morte programada.

O câncer se desenvolve depois que uma célula acumula mutações em diversos genes que controlam o crescimento e a sobrevivência. Quando uma mutação parece irreparável; a célula afetada suicida-se; do contrário ela poderá viver bastante para acumular mutações, o que a torna capaz de se dividir, descontroladamente e levar a metástase, ou seja, quando o tumor se espalha para outros locais ou tecidos.

Em muitos tumores, um dano genético falha para induzir a apoptose, porque os constituintes celulares desativam o gene que codifica a proteína p53. esta proteína pode levar a ativação da maquinaria apoptótica da célula quando o DNA é injuriado. Em mais da metade de todos os tumores sólidos, incluindo o pulmonar, do colo e de mama, houve perda da proteína p53, ou então ocorreu a formação de uma proteína semelhante porem ineficaz.   

As células que se tornam cancerosas podem ainda estar desprovidas de seus gatilhos apoptóticos. A tendência das células normais em cometer suicídio, quando privadas de seus fatores de crescimento normais ou de contatos físicos com seus vizinhos é, provavelmente, uma tendência já presente contra a metástase. A ativação da apoptose nas células tumorais, que saem de seu tecido nativo para se espalhar por outros tecidos do corpo, presumivelmente erradica muitas células metastáticas, antes que elas tenham chance de crescer. As células cancerosas estão sempre procurando maneiras de se tornarem insensíveis aos fatores apoptóticos conseqüentes da privação do fator de crescimento e de perda de contatos com as células vizinhas.

Outras proteínas relacionadas a apoptose parecem estar implicadas no desenvolvimento deste mal. Em diversos cânceres, especialmente certos linfomas, a morte da célula é impedida pela excessiva produção de proteína inibidora do suicídio, a Bcl-2. E há muita razão para suspeitar que alguns tumores impedem a Fas de emitir sinais para ativar a maquinaria da apoptose ou produzem Fas-ligante para evitar a apoptose imuno mediada.

Algumas células normais produzem níveis de Bcl-2 relativamente altos. Esta Bcl-2 preserva as células cuja perda poderia ser muito maléfica ao organismo, mas tal preservação tem seu preço. Aquelas mesmas células pode, talvez, levar a tumores agressivos quando se tornam cancerosas. Protegidas pela Bcl-2, elas estão menos sujeitas a morte do que outras células cancerosas; conseqüentemente, tais células podem ser mais capazes de se desenvolver como metástases nos tecidos que não fornecem os fatores de crescimento produzidos em seus tecidos de origem.

Os melanócitos, que produzem o pigmento melanina, o qual escurece outras células da pele, protegendo-as da ação dos raios solares, que em doses excessivas pode queimar ou causar outros danos. Se os melanócitos perecem facilmente, as outras células estarão correndo perigo. Os melanócitos, por essa razão, devem produzir grandes quantidades de Bcl-2. Mesmo quando os melanócitos se tornam geneticamente danificados, eles são menos propensos a cometer suicídio do que outras células da pele, e são mais propensos, quando malignos, a formar tumores agressivos que se espalham rapidamente.

Muitos tumores são resistentes aos efeitos mortais da quimioterapia. Essas terapias foram consideradas como capazes de destruir os tumores diretamente, com as células malignas morrendo por necrose. As células geralmente morrem por apoptose, freqüentemente pela ativação da p53. Células em que faltam a p53, ou que produzem altos níveis da proteína inibidora Bcl-2, podem, assim, tornarem-se “acostumadas” aos efeitos dos tratamentos contra o câncer e prosperar em metástase.

Introduzindo um gene p53 normal dentro de tumores, com o objetivo de restaurar a produção da proteína normal tem-se a possibilidade de sobrepujar a resistência a apoptose. Maneiras estão sendo investigadas para impedir que o gene Bcl-2 produza a proteína Bcl-2. Outras abordagens contra o câncer visam impedir que as células recebam fatores de crescimento específicos, os quais promovam a sua sobrevivência.

 

Apoptose no Coração e no Cérebro


Em contraste com o câncer, onde pouca apoptose ocorre, um suicídio excessivo de células pode estar por trás de muitas mortes celulares que se seguem quando dos chamados ataques cardíacos ou derrames, causados pelo bloqueio de um segmento de vaso sangüíneo no coração ou no cérebro. No coração tal bloqueio dizima as células que são totalmente dependentes dos vasos, que agora se encontram obstruídos. Tais células morrem por necrose, porque ficam privadas e oxigênio e glicose, necessários para mantê-las, e, principalmente, porque os íons de cálcio, normalmente bombeados para fora da célula, acumulam-se no interior da mesma em níveis tóxicos. Mas isto não é o fim da destruição.

Passados alguns dias, as células em torno da zona de morte, as quais inicialmente sobrevivem porque continuam a receber alimentos de outros vasos sangüíneos morrem também. Muitas morrem por necrose depois de serem subjugadas pelos radicais livres destrutivos, que são liberados quando células inflamatórias fervilham dentro da zona de morte para remover os tecidos necrosados. Entretanto, muitas células muito menos injuriadas cometem suicídio.

Se o paciente é tratado com a restauração do fluxo sangüíneo (medida freqüentemente necessária), ainda mais células podem morrer por necrose ou apoptose, por causa da perfuração que leva a um aumento da produção de radicais livres.

Um cenário similar parece ocorrer no derrame. A necrose ocorre nas células mais seriamente afetadas. Então, passados vários dias a inflamação e as substâncias químicas que escapam das células moribundas (em particular o neurotransmissor glutamato) levam a mais necrose a apoptose nas células vizinhas. Lamentavelmente, como nem as células do músculo do coração e nem as dos neurônios, dividem-se no organismo adulto, as células que uma vez morrem, não poderão ser substituídas. A compreensão dos fatores que levam a morte do tecido que acompanha um ataque cardíaco, derrame ou perfusão, tem levado a novas idéias para tratarmos desses problemas. A morte celular, notavelmente, pode ser limitada por drogas que bloqueiam a produção de radicais livres ou inibem as ICE-proteases.

A apoptose provavelmente também está relacionada à morte celular nos tecidos marcados por uma perda progressiva dos neurônios cerebrais, característico de doenças tais como o mal de Alzheimer, doença de Parkison, doença (ou corea) de Hutington e a esclerose lateral amiotrófica (doença de Lou Gehrig). A causa exata dessas apoptoses não é conhecida. É provável que a combinação de radicais livres, níveis insuficientes de fatores de crescimento do nervo e níveis excessivos de neurotransmissores, possam gradualmente levar a muitas células cometerem suicídio. A liberação de fatores de crescimento dos nervos a longo prazo, pode proteger contra a apoptose nessas condições.

O descontrole da apoptose pode contribuir para muitas outras desordens, entre elas a retinite pigmentosa (um tipo de cegueira) e a osteoporose. Os estudos sobre o suicídio celular estão apenas começando, e muitos esforços apontam para o tratamento de doenças pela manipulação de processos cuja compreensão está apenas começando.

Muitas empresas de biotecnologia e farmacêuticas, todavia, já estão envolvidas neste empreendimento, desenhando novas drogas, revisando as velhas, com relação aos seus efeitos na sobrevivência da célula. A crescente compreensão da apoptose deve colaborar em muito para o melhoramento e o sucesso destes esforços.

 

Células Apoptóticas nos organismos adultos


Os tecidos, virtualmente abrigam células apoptóticas em algum período do seu desenvolvimento. As células normalmente cometem suicídio para o bem do organismo. A lista de exemplos dada abaixo é apenas uma pequena amostra dos tecidos que sofrem apoptose.

Olho: a lente do olho, formada durante o desenvolvimento embrionário, consiste de células apoptóticas que tem em seu citoplasma substituído por uma proteína transparente que forma o cristalino.

Intestino: as células que compõem as projeções das paredes do intestino (microvilosidades), surgem da base dessas projeções e migram até o topo desta onde morrem e descamam.

Pele: as células da pele começam a sua vida nas camadas mais profundas e então migram para a superfície, onde sofrem apoptose. As células mortas formam a camada protetora chamada queratina.

Timo: os linfócitos T, os glóbulos brancos que são os componentes críticos do sistema imune, tornam-se maduros no Timo. Aqueles que perdem a sua função ou que poderão eventualmente atacar os tecidos do próprio organismo, cometem suicídio antes que tenham a chance de cair na corrente sangüínea.

Útero: quando as células da parede uterina morrem e descamam durante a menstruação, elas o fazem por apoptose.

Outros tecidos: células que se tornam infectadas por um vírus ou toleram mutações genéticas irreparáveis, freqüentemente cometem suicídio. O malogro de uma célula alterada geneticamente em cometer suicídio, pode contribuir para o desenvolvimento do câncer. 


Conclusão

A maioria dos tecidos sofre um constante processo de renovação celular, mantendo constante o número de células, graças ao equilíbrio existente entre contínua proliferação e morte das células, caracterizado por um processo ativo de alterações morfológicas e fisiológicas – a apoptose. Ao contrário da morte celular acidental, ou da simples falência descontrolada que ocorre na necrose.

A falta de alguns hormônios e fatores de crescimento pode levar as células-alvo à apoptose. Por outro lado, a apoptose é também um mecanismo de defesa. Células penetradas por vírus, bactérias ou protozoários, muitas vezes entram em apoptose, e o mesmo pode acontecer quando o DNA da própria célula passa por mutação.

Como algumas doenças, o câncer por exemplo, resulta de mutações em células somáticas, a apoptose se constitui numa defesa natural contra células malignas.

Portanto, a morte por apoptose das células parasitas ou malignas resulta em benefício para o organismo como um todo, pelo extermínio de apenas uma ou umas poucas células.


Referências Bibliográficas

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IMPORTANTE
  •  Procure o seu médico para diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. 
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