Atividades físicas e de lazer e
sobre cognição
seu impacto sobre a cognição
env
no envelhecimento

Physical and leisure activities and it’s impact on cognition in aging

Patricia L. dos Santos¹, Priscila M. Foroni², Maria Cláudia F. Chaves³

RESUMO

Modelo do estudo: estudo de prevalência. Objetivos do estudo: Este estudo teve como objetivo investi-
gar a prevalência de atividades físicas e de lazer entre um grupo de idosos com idade entre 70 e 75
anos. Além disso, foi investigado se a inserção nessas atividades pode exercer influência sobre a
cognição. Metodologia: Participaram do estudo 45 idosos de ambos os sexos, com idade entre 70 e 75
anos, cadastrados em um Núcleo de Saúde da Família (NSF) na cidade de Ribeirão Preto (SP), sem
doenças neurológicas (previamente diagnosticadas), não acamados e não asilados. Foram utilizados
um questionário para levantamento de dados sociodemográficos e de saúde, hábitos de vida e rotina
do idoso, formulado com questões de caracterização dos sujeitos, incluindo informações sobre a
realização e características das atividades de lazer e físicas, e o Mini-Exame do Estado Mental – MEEM.
Resultados: No grupo estudado, 52,3% referiram praticar atividade física, principalmente caminhada,
sendo maior a participação entre os homens (69,2%) do que entre as mulheres (43,7%). Quanto às
atividades de lazer, 80% relatou participar de alguma atividade (81,2% das mulheres e 76,9% dos
homens), sendo que a maioria (66,6%) apontou como lazer o hábito de freqüentar igreja. Os idosos que
praticavam atividades de lazer obtiveram escores no MEEM significativamente superiores àqueles que
não praticavam, verificado pelo teste t (p<0,05). Não houve diferença significativa (p>0,05) de desempe-
nho no MEEM quando comparados os indivíduos que praticavam atividade física e aqueles que não
praticavam. Conclusões: O estímulo às atividades de lazer deve também ser considerado quando se
pensam em atividades de promoção à saúde, especialmente no que tange a aumentar as possibilida-
des de um envelhecimento físico e cognitivo saudável.

Palavras-chave: Envelhecimento. Atividades de Lazer. Atividade Física. Cognição.

Introdução

O Brasil tem evidenciado, nas últimas décadas,
um aumento significativo no número de pessoas ido-
sas, o que acarreta, no âmbito dos serviços de saúde,
problemas de longa duração, uma vez que as enfermi-

dades e restrições desta população tendem a se ca-
racterizar por condições crônicas e degenerativas,
exigindo tratamento constante, longos períodos de hos-
pitalização e de reabilitação¹.
O envelhecimento biológico tende a diminuir a
resistência orgânica das pessoas, expondo-lhes mais

1. Docente, Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia
Médica. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP
2. Fonoaudióloga, Aluna do Curso de Aperfeiçoamento em Disfa-
gia Infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto - USP.
3. Aluna de Graduação. Departamento de Biomecânica, Medicina
e Reabilitação do Aparelho Locomotor. Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto - USP

Correspondência:
Profa. Dra. Patricia Leila dos Santos
Rua Tenente Catão Roxo, 2650. Vila Monte Alegre
14051-140, Ribeirão Preto – SP

Artigo recebido em 16/08/2008
Aprovado para publicação em 28/01/2009

Medicina (Ribeirão Preto) 2009;42(1): 54-60

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às doenças, aumenta suas limitações físicas e restrin-
ge sua capacidade motora, podendo contribuir para
um declínio da capacidade funcional2,3.
Além do declínio físico, o processo de envelhe-
cimento pode ser acompanhado pelo declínio das ca-
pacidades cognitivas dos idosos, dependendo de seus
hábitos de vidaO envelhecimento mental não parece ligado
apenas à idade, mas antes a uma redução da percep-
ção de si. Ao avançar dos anos, o indivíduo pode man-
ter a saúde mental, se conservar a auto-estima8..

O ser humano adota comportamentos que lhe
permitem manter-se como membro ativo na socie-
dade. No caso dos idosos, o isolamento, a miséria, a
inatividade e a desvalorização podem ser fatores de
estresse importantes que comprometem o equilíbrio
físico e psíquico, por vezes frágil, destes indivíduos. O
envelhecimento não é conseqüência apenas da de-
generescência biológica, mas resulta, em parte, de
condições políticas, econômicas, históricas e cultu-
rais da sociedade. E as pessoas idosas bem integra-
das são capazes de adotar uma atitude psicossocial
positiva8.
A fase tardia da vida adulta constitui um perío-
do em que desaparecem muitos papéis grandes ou pe-
quenos. Os que permanecem possuem menos con-
teúdo e deveres. Alguns estudiosos encaram tal perda
como um risco de isolamento ou alienação, outros acre-
ditam que isso pode proporcionar maior licença para a
individualidade e a escolha9. Assim, observa-se que
está sendo abandonada a conotação negativa do con-
ceito de velhice e passa-se a conceber essa fase da
vida como possibilidade de realização pessoal, maturi-
dade e sabedoria10.
Na terceira idade o indivíduo, na maioria das
vezes, deixa seu trabalho remunerado, mas não deixa
de “fazer”. Essa necessidade continua, pois é cons-
tante, dinâmica e evolutiva. Para alguns, o envelheci-
mento pode ser um período vazio, sem valor, inútil; já
para outros, pode ser um tempo de liberdade, de des-
ligamento de compromissos profissionais, de fazer
aquilo que não se teve tempo de fazer, de aproveitar a
vida11. A aposentadoria está deixando de ser um mo-
mento de descanso e recolhimento para tornar-se um
período de realização de atividades de lazer. Neste
contexto, o lazer aparece como possibilidade de evitar
o envelhecimento e manter uma vida ativa12.
O lazer e o envelhecimento são assuntos de in-
teresse, que vem ganhando espaço no campo da in-
vestigação científica. Mas há a necessidade de mais

estudos que abordem a relação entre estas duas áre-
as, uma vez que a produção científica a respeito do
assunto ainda é escassa12.
É importante destacar que incentivar e propor-
cionar atividades de recreação e lazer constitui-se em
estratégia efetiva para a redução do isolamento, da
melhoria da inserção do idoso no meio social e do de-
senvolvimento de novas habilidades, o que pode refle-
tir diretamente na melhoria da auto-estima e da condi-
ção de saúde7.
Os exercícios físicos de moderada intensidade
trazem benefícios, tais como, redução da morbidade e
mortalidade por doença coronariana, controle da pres-
são arterial, da glicemia e do colesterol e melhora do
peso. A ausência de atividades físicas está também
associada com diversos problemas músculo-esquelé-
ticos, que podem afetar negativamente as atividades
funcionais do idoso6.
O exercício físico também pode auxiliar na
manutenção de níveis mais elevados de desempe-
nho cognitivo entre os idosos. Aqueles que possuem
incapacitações que os impossibilitam ao exercício re-
gular, apresentam maior propensão a evidenciar
declínio mais precoce ou mais rápido, em várias fun-
ções mentais9.
Para um envelhecimento bem sucedido é fun-
damental ter qualidade de vida e bem-estar. Santos et
al. 13 em um estudo sobre satisfação dos idosos em
relação à sua qualidade de vida, observaram que a
variável socialização (“fazer amigos”) apresentou
maior índice de satisfação. Essa variável refletia as
atividades comunitárias (tarefas sociais e religiosas),
que facilitavam a interação com novos amigos.
De acordo com Jordão Netto2, é fácil constatar
que idosos sociáveis, participantes, ativos ou que não
enfrentam barreiras de preconceitos ou estereótipos,
tendem a ser mais saudáveis que aqueles que, por von-
tade própria ou circunstâncias familiares e/ou cultu-
rais são arredios, solitários, discriminados ou desinte-
ressados.
Estudos também revelam o papel protetor da
participação em atividades de lazer, incluindo o exer-
cício físico, o exercício mental e a manutenção das
relações sociais, sobre as funções cognitivas no enve-
lhecimento5,10,14-20 .
Deve-se considerar que a adequação do apoio
social afeta as funções físicas e cognitivas na velhice,
da mesma forma que o faz em momentos anteriores
do ciclo de vida9.
Apesar dos benefícios das atividades físicas e

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de lazer, a inserção dos idosos nessas atividades é re-
duzida. Feliciano, Moraes e Freitas7 encontraram que
somente 17% dos idosos acima de 60 anos, pratica-
vam alguma atividade física. Germano Netto21 evi-
denciou a baixa freqüência de participação em clubes
e entidades de recreação e lazer, tanto entre os ho-
mens como entre as mulheres.
Dentre as barreiras que impossibilitam a con-
cretização do ideal de lazer, pode-se citar: saúde defi-
citária, fator econômico, estereótipos, tempo disponí-
vel, instalações inadequadas e falta de transporte12.
Apesar dos esforços dos estudiosos em demons-
trar as possibilidades de desenvolvimento e as poten-
cialidades das pessoas idosas, alguns estereótipos per-
sistem e outros surgem no cenário contemporâneo.
As condições econômicas constituem outro entrave
para o lazer, devido à queda na renda a partir do mo-
mento em que se aposentam. Alguns idosos também
têm o tempo livre limitado para o lazer, pois se encon-
tram envolvidos com uma série de obrigações familia-
res e com trabalhos informais para complementação
da renda12.
Há a necessidade de uma educação para o lazer
contínua, que vise à participação social, a diminuição
dos obstáculos, a inclusão de todos os grupos de ido-
sos, desenvolvendo um sentido de cidadania na socie-
dade. Assim, o acesso a serviços de apoio ao idoso,
transporte, grupos de convivência e grupos de orien-
tação aos familiares são algumas alternativas para
minimizar as dificuldades10,12.
Tendo em vista a importância do tema, este
estudo teve como objetivo investigar a prevalência de
atividades físicas e de lazer entre um grupo de idosos
com idade entre 70 e 75 anos. Além disso, foi investi-
gado se a inserção nessas atividades pode exercer
influência sobre a cognição.

Metodologia

Participantes

Participaram do estudo 45 idosos de ambos os
sexos, com idades entre 70 e 75 anos, cadastrados
em um Núcleo de Saúde da Família (NSF) na cidade
de Ribeirão Preto (SP), sem doenças neurológicas
(previamente diagnosticadas), não acamados e não asi-
lados.
A amostra representa 37,8% dos usuários
cadastrados da faixa etária estudada, e ficou com-
posta por idosos com idade média de 72,2 anos

56

(DP=1,79), sendo 32 (71,2%) do sexo feminino e 13
(28,8%) do sexo masculino.

Instrumentos

Foram utilizados um questionário para levanta-
mento de dados sociodemográficos e de saúde, hábi-
tos de vida e rotina do idoso, formulado com questões
de caracterização dos sujeitos, incluindo informações
sobre a realização e características das atividades de
lazer e físicas, e o Mini-Exame do Estado Mental –
MEEM, versão em português validada para a popula-
ção brasileira22.

Procedimento

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa do Centro de Saúde Escola da Fa-
culdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universi-
dade de São Paulo. Os participantes consentiram com
a realização da pesquisa e a divulgação dos resulta-
dos, assinando o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, conforme a Resolução 196/96 do Conse-
lho Nacional de Saúde.
O preenchimento do questionário e a aplicação
do MEEM foram realizados no NSF ou na casa do
idoso, conforme a preferência do mesmo, sendo que o
encontro teve uma duração média de 30 minutos.

Análise dos dados

Os dados coletados foram organizados em
planilhas e submetidos à análise estatística descritiva
e análise de correlação entre variáveis, realizadas a
partir do Excel e do SPSS 10.0.

Resultados

Os idosos participantes eram em sua maioria
(54,5%) idosos viúvos; 82,2% residiam com familia-
res e eram predominantemente católicos (75%). Me-
tade da amostra recebia entre 200 e 600 reais por
mês, sendo que a maioria do grupo de idosos era apo-
sentada (59%).
Quanto à distribuição dos participantes em fun-
ção da escolaridade, a maior parte dos idosos (63,6%)
tinha ensino fundamental incompleto e, nenhum deles
tinha ensino superior.
No que se refere à saúde física, 86,6% dos ido-
sos relataram apresentar alguma dificuldade, sendo
que 88,8% afirmaram fazer uso regular de medica-
ção. Na Tabela 1 pode ser observada a distribuição
dos problemas de saúde apontados.

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Tabela 1
Distribuição da freqüência e porcentagem de proble-
mas de saúde relatados pela amostra (n=45).

Problemas de saúde

Hipertensão arterial

Dificuldade para andar

Doenças osteoarticulares

Problemas genito-urinários*

Diabetes Mellitus

Problemas vasculares

Problemas intestinais

Problemas cardíacos

Enfisema pulmonar

*Incluindo incontinência urinária (8,8%)

Quanto aos hábitos de vida, 64,4% dos idosos
nunca fumaram, 26,8% já haviam fumado e não o fa-
ziam mais e, 8,8% ainda fumavam; 51,1% nunca be-
beram, 11,1% beberam no passado e 37,8% ainda be-
biam regularmente.
Vale destacar que 31,1% da amostra informou
ter dificuldade para dormir, especialmente as mulhe-
res (a diferença entre homens e mulheres quanto à
dificuldade de dormir foi significativa, p=0,004).
No grupo estudado, 52,3% referiram praticar
atividade física, principalmente caminhada, sendo
maior a participação entre os ho-
Tabela 2
mens (69,2%) do que entre as mu-
Distribuição de freqüência e porcentagem das atividades de lazer
lheres (43,7%). Importante mencio-
lizadas pela amostra (n=45).
nar que muitos indicaram que a ca-
minhada faz parte de sua rotina diá-
Atividades de lazer
n
ria.
Freqüentar a igreja
30
Quanto às atividades de lazer,
80% relatou participar de alguma ati-
Passear (visitar amigos, familiares)
19
vidade (81,2% das mulheres e 76,9%
Realizar trabalhos manuais (costura, tricô, pintura)
18
dos homens), sendo que a maioria
(66,6%) apontou como lazer o hábi-
Atividades de leitura e escrita (livros, palavras-cruzadas)
16
to de freqüentar igreja. Pode-se ob-
Freqüentar festas
14
servar na Tabela 2, a distribuição das
atividades de lazer apontadas.
Participar de grupos
9
Verificou-se que o hábito de
Participar de jogos (cartas, damas, xadrez)
8
passear (como visita a familiares e
amigos) apresentou distribuição di-
Freqüentar clubes
4
ferenciada segundo o sexo, sendo

mais freqüente entre as mulheres (43,7%) do que en-
tre os homens (38,4%). As mulheres também relata-
ram maior participação em grupos (20%), sendo que
nenhum participante do sexo masculino referiu per-
tencer a grupos. Em contrapartida, a participação em
jogos (38,4%) e festas (38,4%) foi maior entre os ho-
mens do que entre as mulheres (6,2 % em jogos e
28,1% em festas).
O hábito de atividades que envolvem leitura e
escrita foi praticamente equivalente entre os sexos,
com discreta predominância entre os homens (38,4%
contra 34,3% entre as mulheres).
A participação em atividades de lazer foi mais
elevada entre os viúvos (87,5%) do que entre os ca-
sados (65%). Entretanto, os viúvos foram aqueles
com menor percentual de atividades físicas (41,6%),
enquanto os casados apresentaram um percentual
de 60%.
Foi praticamente equivalente o percentual de
idosos que relataram presença e ausência de proble-
mas de saúde entre aqueles que participavam de ati-
vidades físicas (51,2% e 50%, respectivamente). En-
tretanto, observou-se que a participação de idosos hi-
pertensos em atividades físicas foi maior que de não
hipertensos (53,5% contra 46,5%).
Observou-se, ainda, menor participação em ati-
vidades físicas por idosos que moram sozinhos com-
parado àqueles que moram com outras pessoas (37,5%
contra 54%).
A referência a problemas com a memória foi
elevada (71,1%), sendo que os percentuais foram mais
altos entre as mulheres (81,2%) do que entre os ho-
mens (53,8%).

%

n

28

62,2

15

33,3

15

33,3

12

26,6

8

17,7

7

15,5

6

13,3

6

13,3

1

2,2

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O escore médio obtido pela amostra no MEEM
foi de 24,09 pontos (DP=3,67). Os idosos que pratica-
vam atividades de lazer obtiveram escores no MEEM
significativamente superiores àqueles que não prati-
cavam, verificado pelo teste t (p<0,05). Não houve
diferença significativa (p>0,05) de desempenho no
MEEM quando comparados os indivíduos que prati-
cavam atividade física e aqueles que não praticavam.

Discussão

A prática de atividades físicas consiste em um
hábito de vida saudável em qualquer faixa etária. Na
terceira idade, esse hábito promove a manutenção de
uma boa saúde física e mental. Nesse estudo, mais da
metade dos idosos informaram realizar atividades de
lazer regularmente, em concordância com outros es-
tudos, em que a prevalência de idosos inseridos em
tais atividades ultrapassou os 50%4,10,23,24. Em con-
trapartida, no estudo de Almeida et al.25 apenas 43,3%
dos idosos referiram praticar atividades de lazer. Com-
plementarmente, o estudo de Zaitune et al.26 revelou
uma prevalência de 70% de idosos sedentários.
O envelhecimento, quando vivenciado de for-
ma positiva, envolve a prática de atividades físicas e
de lazer, o que melhora a qualidade de vida. Assim,
sugere-se que a população estudada, de uma forma
geral, pode estar apresentando uma vivência positiva
em relação a sua velhice, com hábitos saudáveis que
colaboram para uma boa saúde.
De acordo com o estudo de Júnior e Guerra27,
a ausência de práticas de atividades físicas de lazer é
um fator determinante para as limitações funcionais
das mulheres idosas de baixa renda. Desta forma, a
prática de atividade física poderia atuar como um im-
portante fator preditor da condição funcional dessas
mulheres.
As caminhadas são as atividades físicas que
melhor se adaptam aos idosos. A preferência pela
prática da caminhada evidenciada nesse estudo, pode
ser explicada por representar uma atividade física
natural e de baixo impacto, sem custo, realizada em
qualquer local e freqüentemente recomendada por
médicos, além de contribuir para aumentar o contato
social25,28,29. Um estudo26 investigando a prática de
atividades de lazer entre um grupo de idosos, revelou
que a prevalência de caminhada foi de 23,5%, segui-
da por ginástica ou musculação (3,8%) e por natação
ou hidroginástica (3,6%).
Outra atividade muito comum entre os idosos

58

estudados foi o hábito de freqüentar a igreja, como
também verificado no estudo de Anderson et al.4 e
Germano Netto21. Neste último, destacou-se a parti-
cipação das mulheres idosas mais jovens.
Ainda com relação às reuniões sociais, um bai-
xo número de idosos relatou participar de grupos, clu-
bes e jogos. As atividades sistemáticas que incluem
reuniões de grupos são importantes para os idosos,
por trazer benefícios, como a socialização, o estímulo
à criatividade e a melhora da auto-estima29.
Notou-se uma menor participação do sexo fe-
minino nas atividades físicas, o que de acordo com
Almeida et al.25 pode ser conseqüência de uma cultu-
ra que restringe a liberdade da mulher ao trabalho e ao
lazer e a ausência de políticas sociais direcionadas a
elas, cabendo-lhes, quase sempre, as atividades do-
mésticas. O estudo de Gomes, Siqueira e Sichieri30
revelou que a realização de atividade física regular ou
esporte foi referida por apenas 9,1 % das mulheres,
contra 18,4% dos homens. De acordo com Matsudo,
Matsudo e Neto28, as mulheres reportam mais barrei-
ras para a prática do que os homens, tais como falta
de companhia, falta de interesse, fadiga, problemas de
saúde, artrite e medo de quedas. Desta forma, a pro-
moção da atividade física na terceira idade deve levar
em consideração as principais barreiras citadas, no
momento de estabelecer políticas de saúde pública.
Além da atividade física, os homens também
costumam participar de festas e jogos com maior fre-
qüência, quando comparados às mulheres, enquanto
estas costumam passear (visitar familiares, amigos) e
participar de grupos com maior freqüência. As idosas
ainda, possuem maior interesse por atividades manu-
ais (artesanato, costura, pintura). Esses achados con-
cordam com outros estudos10,21,25.
Quanto à situação conjugal, os casados apre-
sentaram maior acesso as atividades físicas, o que pode
ocorrer devido a uma maior motivação, apoio e segu-
rança de quem tem um companheiro(a), levando o ido-
so a se sentir mais disposto para tais atividades25.
Verificou-se no estudo, a maior participação
dos hipertensos em atividades físicas, do que os ido-
sos não hipertensos. Acredita-se que o conhecimento
da condição de hipertenso possa estar refletindo na
tentativa de melhorar a condição de saúde, através da
adesão a exercícios físicos, bem como ao tratamento
e à dieta31.
Os resultados revelaram que os idosos avalia-
dos apresentaram capacidade cognitiva preservada –
média no MEEM de 24 pontos - , quando comparados

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com outros estudos que evidenciaram resultados no
MEEM entre 19 e 21 pontos32,33.
Observou-se no estudo, que os idosos que
praticavam atividades de lazer apresentaram escores
superiores àqueles que não praticavam, o que corro-
bora achados da literatura. O estudo de Argimon e
Stein10, com idosos entre 80 e 95 anos, mostrou uma
correlação positiva entre o número de atividades de
lazer e o desempenho cognitivo, sugerindo que as di-
ferentes atividades de lazer e as atividades físicas pa-
recem atuar como fatores de proteção ao declínio
cognitivo. Verghese et al.20 apontaram que a partici-
pação em atividade cognitiva é associada a um risco
mais baixo de desenvolver declínio cognitivo leve. Em
direção semelhante, Wang et al.15 verificaram que a
participação diária ou semanal dos idosos em ativida-
des mentais e atividades produtivas esteve associada
a um risco mais baixo de desenvolver demência.
O estudo de Benedetti et al.34 verificou uma
associação estatisticamente significativa e inversa de
demência e depressão com atividade física total e ati-
vidade física no lazer. Os autores reforçam a impor-
tância de estilo de vida ativo para prevenção de pro-
blemas de saúde mental de idosos, inferindo que a ati-
vidade física tem conseguido reduzir e/ou atrasar os
riscos de demência, embora não se possa afirmar que
a atividade física evita a demência.
Percebe-se um desconhecimento por parte
da população idosa sobre a prática de atividades de
lazer e seus benefícios. No estudo de Pacheco e San-
tos29, os idosos pesquisados não consideravam que
assistir à televisão e ouvir música eram atividades de

lazer, de forma que a noção de lazer estava relaciona-
da a atividades que requerem dispêndio de dinheiro
para sua realização e não, em ser uma atividade pra-
zerosa, que não necessariamente exige o gasto finan-
ceiro. Muitas vezes, também interiorizam a concep-
ção de que as atividades socioculturais e físicas não
lhes pertencem, bem como se sentem rejeitados pela
sociedade, que reforça esta situação25.
Doimo, Derntl e Lago35 sugeriram que o fato
do lazer ativo não ocupar maior proporção do tempo
livre dos idosos pode ser atribuído a aspectos indi-
viduais, culturais e falta de oportunidades adequadas
de interação e aprimoramento pessoal oferecidas pela
própria comunidade. Porém, para algumas pessoas,
muitas vezes o que se considera trabalho pode ser
interpretado como lazer ativo, pois estas encontram
em tais atividades um desafio significativo que exige
empenho e habilidade e, portanto, encontram prazer
em executá-las.

Conclusão

Nos dias atuais, muito se tem falado sobre a
importância do incentivo e prática de atividades físi-
cas para a manutenção da saúde, mas nem sempre a
ênfase dada às atividades de lazer é a mesma.
Os resultados deste trabalho sugerem que esta
questão precisa ser revista e que o estímulo às ativi-
dades de lazer deve também ser considerado quando
se pensam em atividades de promoção à saúde, espe-
cialmente no que tange a aumentar as possibilidades
de um envelhecimento físico e cognitivo saudável.

ABSTRACT

Paper design: prevalence study. Objective: The goal of this study was to investigate the prevalence of
physical and leisure activities among a gruop of elderly with age of 70 to 75. Furthermore, it was
investigated if those activities would have an influence in cognition. Methods: Participated in this study 45
elderly of both gender in the age of 70 to 75. They were non bedridden, non living in an asylum, had no
neurolical diseases ( pre diagnosticated) and were cadastrated in a Núcleo de Saúde da Família (NSF)
in the city of Ribeirão Preto, São Paulo, Brazil. Two questionnaire were used: one to gatter data of social
and economic state, health, life habits and the elderly routine, formulated with questions to qualify the
subjects including informations about leisure and physical activities ; and the other one was the Mini
Exame of Mental Health. Results: In this studied group 52,3% reported the habit to praticate physical
activities, especialy walk, and men refered doing it more (69,2%) then women (43,7%). About the leisure
activities 80% reported doing it (81,2% of the women and 76,9% of the men). The most refered tipe was
going to church (66,6%). The elderly who practiced leisure activities had a significative higher score,
verified by the t test, on the Mini Exame then those who didn’t. Conclusions: The incentive to leisure
activities should be considered when one thinks about health promotion, specialy when there is a
possibility to upgrade the chances of a healthy physical and cognition aging.

Keywords: Aging. Leisure Activities. Physical Activity. Cognition.

Santos PL, Foroni PM, Chaves MCF. Atividades físicas e
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Medicina (Ribeirão Preto) 2009; 42 (1): 54-60
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